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O que mudou este ano nos Territórios Palestinos?
Com a guerra entre Israel e Hamas iniciada em outubro de 2023, a violência foi generalizada e não atingiu apenas os cristãos. Em Gaza, ao menos 33 cristãos morreram em decorrência dos conflitos. Na Cisjordânia, as limitações já impostas pelas autoridades israelenses foram endurecidas, e todas as comunidades cristãs enfrentam mais restrições de viagem. Muitas famílias cristãs se mudaram para o exterior ou estão tentando sair da região.
Cristãos de origem muçulmana enfrentam a maior parte da perseguição por parte da família e tornou-se mais difícil a conexão com as igrejas existentes.
“Para a maioria dos novos convertidos, é uma combinação: eles experimentam um toque de Deus em um sonho ou visão e então alguém vem para explicar para eles pessoalmente. Mas, geralmente, é Deus quem faz o primeiro movimento.”
Nadia (pseudônimo), cristã de origem muçulmana nos Territórios Palestinos
Como é a perseguição aos cristãos nos Territórios Palestinos?
A guerra entre Israel e Hamas causou um enorme dano à comunidade cristã em Gaza, causando a morte de muitos e obrigando outros a fugirem da região. Na Cisjordânia, as tensões pioraram as limitações já existentes e resultaram em dificuldades econômicas e sociais.
Igrejas históricas precisam ser diplomáticas em seu engajamento com a comunidade muçulmana. O assédio a líderes religiosos e cristãos locais por judeus radicais também aumentou nos últimos anos. Cristãos de igrejas protestantes não históricas enfrentam oposição em questões teológicas e são acusados de “roubar fiéis”.
Antes da guerra, Gaza era governada pelo Hamas e a Cisjordânia pelo Fatah. Pelo menos 60% da Cisjordânia está sob controle total de Israel. O nível de perseguição nas duas áreas é diferente. Dentro da comunidade de Gaza, onde a hostilidade contra os cristãos é mais intensa, militantes islâmicos e a sociedade islâmica conservadora desempenham um papel mais significativo do que na Cisjordânia.
Como posso ajudar os cristãos perseguidos nos Territórios Palestinos?
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para o projeto da Portas Abertas de apoio aos cristãos perseguidos que enfrentam maiores necessidades.
Quem persegue os cristãos nos Territórios Palestinos?
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos nos Territórios Palestinos são: opressão islâmica, nacionalismo religioso, hostilidade etno-religiosa, opressão de clã e paranoia ditatorial.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores das hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos nos Territórios Palestinos são: parentes, oficiais do governo, líderes de grupos étnicos, líderes religiosos não cristãos, grupos religiosos violentos, cidadãos e quadrilhas.
Pedidos de oração dos Territórios Palestinos
- Interceda por paz nos Territórios Palestinos, para que os conflitos terminem e a população viva sem medo.
- Clame por consolo, cura e coragem aos cristãos de origem muçulmana, que enfrentam perseguição por parte da família, da comunidade e das autoridades.
- Ore por suprimento de todas as necessidades dos cristãos que ainda estão no território.
Mais informações sobre o país
HISTÓRIA DOS TERRITÓRIOS PALESTINOS
Os Territórios Palestinos são compostos por territórios da Faixa de Gaza (ao longo da costa do Mar Mediterrâneo) e da Cisjordânia (Oeste do Rio Jordão). A área geográfica e a condição política mudaram ao longo dos últimos três milênios. A região, ou pelo menos parte dela, também é conhecida como Terra Santa e é considerada sagrada por judeus, cristãos e muçulmanos. Desde o século 20 é objeto de reivindicações conflitantes de judeus e movimentos nacionais árabes, e o conflito levou a violência prolongada e, em diversos momentos, guerra declarada.
A atual tensão entre israelenses e palestinos é caracterizada pelo conflito entre grupos rivais palestinos: Fatah na Cisjordânia e Hamas em Gaza. Enquanto o Hamas continua a rejeitar qualquer tipo de relacionamento com Israel, o Fatah (e consequentemente a Autoridade Nacional Palestina) escolheu cooperar com os israelenses, pelo menos no nível de segurança. Como resultado, a vida dos palestinos na Cisjordânia é severamente limitada pelas medidas de segurança enquanto os moradores de Gaza vivem quase totalmente isolados.
Após o Hamas ganhar uma maioria decisiva nas eleições parlamentares de 2006, um governo de unidade nacional foi formado incluindo membros tanto do Hamas como do Fatah. Tensões sobre o controle das forças de segurança palestinas levaram a uma guerra civil em Gaza, na qual o Hamas tomou o poder à força em 2007. Desde então, há duas administrações rivais na Autoridade Nacional Palestina. O relacionamento entre ambos os partidos é caracterizado pela desconfiança mútua, revelando a influência do tribalismo e das rivalidades entre clãs na comunidade árabe palestina. Ao longo dos anos, houve importantes tentativas de reconciliação com diferentes mediadores, mas sem sucesso até agora. Assim, os Territórios Palestinos parecem permanecer sob dois governos com um crescente grau de separação entre Cisjordânia e Gaza.
Eleições parlamentares e presidenciais há muito esperadas (um passo óbvio, mas ainda arriscado para ambos os partidos com fome de poder) foram planejadas para maio e julho de 2021. Porém, o presidente Abbas cancelou as eleições após dois concorrentes do Fatah receberem apoio público, diminuindo suas chances de reeleição. Abbas usou a falta de transparência na votação em Jerusalém Oriental como uma desculpa para o cancelamento. Então, em maio de 2021, o Hamas tentou assumir a liderança moral da causa palestina ao lançar um número sem precedentes de foguetes contra Israel em resposta às forças israelenses que invadiram a mesquita de al-Aqsa após protestos eclodirem por conta do plano israelense de expulsar os palestinos de Jerusalém Oriental. Pela primeira vez, muitos árabes israelenses se uniram aos protestos, levando a uma escalada da violência entre judeus israelenses e árabes. Ao menos 240 palestinos (a maioria deles em Gaza) e doze israelenses perderam a vida durante a crise.
O conflito de maio de 2021 é a mais recente de uma longa série de ações violentas entre Hamas e Israel. Por exemplo, em maio de 2019, aproximadamente 700 foguetes foram lançados, seguidos por ataques de represália israelense, resultando na morte de quatro israelenses e 23 palestinos. Durante o ano de 2020, o Hamas e outros grupos lançaram foguetes de Gaza para Israel em várias ocasiões, com o exército israelense respondendo da mesma forma. Anteriormente, em maio de 2018, os Estados Unidos acabaram com todas as esperanças de ser um mediador da paz imparcial para colocar fim ao conflito ao mudar a sua embaixada para Jerusalém. A mudança coincidiu com o 70º aniversário de Nakba em 15 de maio de 2018 (Nakba significa “desastre” em árabe; esse termo é usado para se referir aos eventos que ocorreram durante o estabelecimento do Estado de Israel em 1948, quando 700 mil palestinos perderam suas casas). A comemoração foi utilizada em Gaza para organizar a “Grande Marcha do Retorno”, um protesto semanal na fronteira que continuou até 2019 e no qual ao menos 250 manifestantes foram mortos por forças israelenses. Enquanto isso, o controle de Israel em Gaza permaneceu forte.
Em comparação a Gaza, a Cisjordânia permanece relativamente calma devido a uma melhor condição de vida e a cooperação de segurança entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina. Porém, essa calma é superficial. Além da matança regular de palestinos pelas forças israelenses, muitos na Cisjordânia já perderam toda esperança de alcançar um Estado palestino e um futuro melhor. Muitos não acreditam mais que o governo israelense quer realmente paz e uma solução conjunta entre os dois Estados; uma descrença que só cresceu após um aumento recente da violência. Além disso, após cancelar as eleições, o presidente Abbas perdeu toda a credibilidade entre a maioria dos palestinos, exceto de seu eleitorado principal. Para piorar a situação, oficiais de segurança palestinos espancaram o ativista e crítico do governo Nizar Banat até a morte e dispersaram violentamente os protestos posteriores. Atualmente, o futuro de Abbas como presidente parece depender totalmente do apoio de Israel, como demonstrou uma ousada e desesperada visita pessoal à casa do ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, após anos de impasse nas negociações de paz e frequentes hostilidades públicas.
A crise em torno da COVID-19 deixou a vida significativamente mais difícil em Gaza e na Cisjordânia. O desemprego aumentou, especialmente porque o turismo chegou a parar completamente e pouquíssimos palestinos foram autorizados a trabalhar dentro de Israel. A implementação da vacina começou, mas atrasou com relação à implementação israelense para seus próprios cidadãos. Alguns grupos de direitos humanos alegaram que Israel tem a obrigação de vacinar os palestinos, mas o governo israelense ressalta que a Autoridade Nacional Palestina é a responsável e permaneceu priorizando a vacinação da população israelense, incluindo colonos que vivem na Cisjordânia.
Muitos cristãos palestinos foram afetados pela crise da COVID-19, particularmente aqueles que ganham a vida do turismo religioso, que chegou a parar completamente. Milhares de famílias cristãs têm, desde então, se tornado dependentes da ajuda de igrejas locais.HISTÓRIA DA IGREJA NOS TERRITÓRIOS PALESTINOS
Desde os primórdios da igreja cristã no século 1 sempre houve cristãos vivendo na região, de uma ampla variedade de denominações e nacionalidades. No século 7, exércitos árabes invadiram e do século 9 em diante os cristãos se tornaram uma minoria, vivendo sob a autoridade islâmica. Desde que pagassem a jizya, um imposto para não muçulmanos conquistados (dhimmis), e não evangelizassem os muçulmanos, eles podiam praticar sua religião.
Após as Cruzadas, monges franciscanos permaneceram para manter as igrejas e os lugares religiosos. Até o século 19, muitos cristãos pertenciam à Igreja Ortodoxa Grega. Durante o século 19, missionários católicos romanos, católicos gregos (melkite) e protestantes (luteranos/anglicanos) foram à Terra Santa e começaram a trabalhar principalmente entre cristãos ortodoxos. Isso mudou o cenário da igreja profundamente. Embora a Igreja Ortodoxa Grega permaneça a maior denominação, a Igreja Católica Romana com suas conexões no Ocidente é mais influente. Notáveis teólogos protestantes surgiram no país, como Naim Ateek (anglicano) e Mitri Raheb (luterano). Várias outras igrejas evangélicas não tradicionais também se estabeleceram durante as últimas décadas.
Convertidos do islamismo para o cristianismo cresceram em número ao longo dos anos, mas a conversão permanece um tema muito sensível, particularmente porque a religião está ligada à identidade da família. Deixar a religião familiar é, portanto, visto como uma traição do elemento mais fundamental na sociedade tribal palestina. Cristãos de origem muçulmana são mais propensos a terem problemas e serem perseguidos pelos parentes.CONTEXTO DOS TERRITÓRIOS PALESTINOS
A grande maioria dos palestinos são adeptos do islamismo sunita, com os cristãos chegando a apenas 0,8% da população. De acordo com o World Atlas, “palestinos muçulmanos consideram Jerusalém como uma parte importante da sua religião, com a mesquita de Al-Aqsa na cidade velha de Jerusalém sendo considerada o terceiro lugar mais sagrado do mundo islâmico. De acordo com o islamismo, acredita-se que Maomé foi levado da mesquita sagrada em Meca para a mesquita de Al-Aqsa na viagem noturna. Acessar o local apresenta desafios aos palestinos porque envolve uma série de formalidades, com visitas casuais sendo proibidas. Muçulmanos na Palestina praticam sua religião com algumas dimensões de religião popular. Em um passado recente, a radicalização se enraizou substituindo o entendimento mais tolerante e informal da sociedade e da religião”.
De acordo com o Middle East Concern, “alguns dos desafios enfrentados por cristãos na Palestina variam por área de acordo com as autoridades que governam. Em anos recentes, comunidades cristãs na Cisjordânia têm geralmente usufruído de boa posição na sociedade e um grau significativamente maior de liberdade religiosa do que as comunidades cristas na Faixa de Gaza, que tem sido governada pelo partido mais islâmico Hamas. Há uma representação garantida de cristãos na Assembleia Legislativa (ainda que a Assembleia não se reúna desde 2007), e os prefeitos de Belém e Ramalá devem ser cristãos por decreto. Há algumas restrições aplicadas para se reconhecer comunidades cristãs, especialmente para atividades que sejam interpretadas como proselitismo. Há uma forte pressão social e familiar contra aqueles que resolvem deixar o islamismo, e em casos extremos, eles podem enfrentar respostas violentas dos membros da família”.
Em geral, a maioria dos cristãos palestinos vive na Cisjordânia, com mais cristãos morando na grande Belém. Comunidades cristãs menores são encontradas na área de Ramalá, enquanto somente poucas famílias cristãs vivem em Nablus (Norte) e Hebrom (Sul). Em novembro de 2019, o Conselho de Igrejas Evangélicas Locais ganhou reconhecimento oficial da Autoridade Nacional Palestina. Em geral, as comunidades históricas cristãs são respeitadas na Cisjordânia e em menor grau em Gaza. Elas usufruem de liberdade religiosa, mas não podem evangelizar. Por outro lado, convertidos do islamismo para o cristianismo enfrentam discriminação severa, tanto legal quanto socialmente. A conversão para o cristianismo não é oficialmente possível e o casamento entre mulheres convertidas e homens cristãos não é reconhecido. Filhos nascidos em tais casamentos são considerados ilegítimos.
Existem menos de mil cristãos em Gaza. Há três igrejas em Gaza, pertencentes a diferentes denominações: uma ortodoxa grega, uma católica romana e uma batista. Quase todas as igrejas na Cisjordânia e em Gaza administram escolas privadas e fornecem instalações médicas para todos os palestinos, independentemente da fé. Um número significativo de instituições de bem-estar foi estabelecido por cristãos, tornando a influência da comunidade cristã palestina muito maior do que seu número sugere. Apesar do fato de que deixar a Faixa de Gaza é quase impossível devido às restrições israelitas, com o tempo, o total de cristãos vem diminuindo em Gaza e na Cisjordânia por conta de emigração e da baixa taxa de natalidade.
A cultura palestina é conservadora e tribal, porém palestinos têm em média um nível alto de escolaridade. Especialmente centros urbanos como Ramalá e Belém possuem uma forte cultura jovem. De acordo com o estudo Palestinian Youth Challenges and Aspirations, “jovens vivem sob condições difíceis, com aproximadamente 40% de desempregados, dos quais 50% são graduados. Pesquisas indicam que mais de um terço dos jovens desejam migrar para o exterior (37% em Gaza e 15% na Cisjordânia). Há diferenças no desemprego entre homens e mulheres, já que a taxa é de 21% entre homens e 43% entre mulheres. A taxa também é mais alta na Faixa de Gaza (40%) do que na Cisjordânia (16,9%)”.
A cultura palestina também é marcada por normas patriarcais, sendo que homens assumem a posição de chefe da casa. A violência de gênero e o chamado “crime de honra” são problemas recorrentes preocupantes e relatórios indicam que a violência doméstica cresceu durante a crise de COVID-19. Há uma larga aceitação social da violência doméstica, o que é uma ameaça para as mulheres convertidas do islamismo caso a fé delas seja descoberta, dada a vergonha que a conversão traz sobre a família. Os indicadores sociais do Fragile States Index mostram que a queixa de grupo está na pontuação mais alta possível, indicando que tensões sociais são constantemente altas e podem facilmente levar à instabilidade social.
Há mais palestinos vivendo no exílio do que nos Territórios Palestinos. Uma grande parte continua vivendo em campos de refugiados criados na sequência das guerras árabe-israelense de 1948 e 1967. Hoje, de cinco a seis milhões de refugiados palestinos podem ser encontrados em campos semipermanentes na Jordânia, no Líbano, na Síria e até mesmo nos próprios Territórios Palestinos. Números exatos, definições de um refugiado e as razões para a situação deles são fortemente controversos; líderes políticos e militares árabes e israelenses são considerados culpados pela situação. As condições socioeconômicas nos campos de refugiados são geralmente precárias, com alta densidade populacional e infraestrutura básica insuficiente. O destino desses refugiados também é uma questão controversa. “Países hospedeiros” não estão preparados para recebê-los e, para Israel, o retorno deles constituiria um perigo demográfico para o Estado judeu.
A situação em Gaza é geralmente percebida como sendo impossível; há um sentimento de que ninguém no mundo se importa e a influência de forças islâmicas politizadas parece inevitável. Gaza permanece um campo de recrutamento fértil para grupos militantes violentos e a radicalização de jovens é uma ameaça real. Grupos religiosos em Gaza implementam medidas de islamização de tempos e tempos. Uma “campanha de virtude” foi lançada em janeiro de 2013 para controlar as vestimentas das mulheres. Em certo momento, o uso do hijab se tornou obrigatório nas escolas secundárias e os homens foram proibidos de trabalhar como cabeleireiros para mulheres, mas essas medidas foram revertidas após resistência local, oposição internacional e influência de ativistas de direitos humanos darem resultados. Entretanto, tentativas similares de islamização foram reportadas novamente em outubro de 2018. Além disso, foi relatado que os salafistas removeram itens de Natal de lojas em Gaza nos últimos anos.
Ao longo dos anos, os cristãos desempenham um papel único e importante na preservação e manutenção de diferentes aspectos da cultura palestina. Isso tem sido feito, por exemplo, por meio da abertura de inúmeros centros culturais, como o Edward Said Musical Institute e a Universidade de Artes e Cultura Dar Al-Kalima, que foca na preservação do bordado palestino, da dança popular tradicional (dabke) e certos artesanatos como a técnica de escultura em madrepérola. Além disso, várias instituições acadêmicas, como a Universidade de Belém e o Bethlehem Bible College foram criadas para atender às necessidades educacionais de palestinos cristãos e muçulmanos.